O MÍNIMO QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE FILOSOFIA – 20 JAN 24
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1) Mensagem valiosa
Categoria : Artigos
Mensagem muito valiosa que recebi do antropólogo Mércio Gomes, ao qual muito agradeço. Comentarei o seu conteúdo mais tarde.
Caro Prof. Olavo de Carvalho,
Me chamo Mércio Gomes, sou antropólogo, ensino na UFRJ, autor de alguns livros entre os quais O Brasil Inevitável (Topbooks, 2019) e Democracia em Convulsão (KDP 2020). Fui colaborador de Darcy Ribeiro no último governo Brizola (1991-94) e presidente da Funai (2003-2007). Fui amigo e discípulo de Luiz Sérgio Coelho de Sampaio e ao redor dele e a propósito de seu livro Aristóteles em nova perspectiva: Introdução à teoria dos quatro discursos, é que tomo seu precioso tempo para lhe apresentar algumas questões sobre a filosofia no Brasil. Seu livro sobre Aristóteles é certamente um marco extraordinário no panorama filosófico brasileiro e mundial. Sua intuição de verdade, certamente que derivada de um grande conhecimento e familiaridade com o Estagirita, e sua argumentação sobre os quatro grandes livros dele comporem elementos constitutivos e complementares de uma lógica me parecem de grande valor. Custo a crer que não esteja sendo discutido no Brasil, que pouca importância lhe tenha sido dada (e a pouca foi negativa, no caso da polêmica canalha na revista Ciência Hoje), e imagino que se tivesse traduzido para o inglês, alemão ou francês haveria discussões em torno de sua argumentação preciosa e original.
3) Sobre O Futuro do Pensamento Brasileiro
Categoria : Artigos
8 de junho de 2017
Palestra realizada no I Encontro da Juventude Conservadora da Universidade Federal do Maranhão, 5 de agosto de 2016, via videoconferência.
Muito bem, boa tarde a todos, muito obrigado pelo convite tão gentil para dar umas explicações aqui sobre o meu livro O Futuro do Pensamento Brasileiro, que está sendo relançado agora pela Vide e que pode gerar muitas discussões frutíferas e proliferar em novos estudos sobre os temas ali anunciados, o que é exatamente o que eu espero que aconteça. Todos os meus livros estão repletos de sugestões descontinuadas – ideias para estudos absolutamente necessários e urgentes sobre a sociedade brasileira, a cultura brasileira, a mentalidade brasileira etc. etc. que não foram empreendidos até agora e estão esperando uma nova geração de estudantes e estudiosos que preencha essa lacuna; essa geração são precisamente vocês. Quer dizer, esses livros contêm não só um apelo, mas uma série de perguntas que eu não tive nem tempo nem meios para responder, mas que precisam ser respondidas. Então, com relação à cultura brasileira nós temos aí pelas nossas costas uma vasta tradição de lugares-comuns, de chavões, de escritos culturais que sempre vão remeter à tripla origem – portuguesa, índia e africana – e repetir os chavões de sempre sobre isso.
4) O que estou fazendo aqui
Categoria : Artigos
A característica fundamental das ideologias é o seu caráter normativo, a ênfase no dever ser. Todos os demais elementos do seu discurso, por mais denso ou mais ralo que pareça o seu conteúdo descritivo, analítico ou explicativo, concorrem a esse fim e são por ele determinados, ao ponto de que as normas e valores adotados decidem retroativamente o perfil da realidade descrita, e não ao inverso. Isso não quer dizer que às ideologias falte racionalidade: ao contrário, elas são edifícios racionais, às vezes primores de argumentação lógica, mas construídos em cima de premissas valorativas e opções seletivas que jamais podem ser colocadas em questão. Daí que, como diz A. James Gregor, o grande estudioso do fenômeno revolucionário moderno, o discurso ideológico seja enganosamente descritivo, quando parece estar falando da realidade, nada mais faz do que buscar superfícies de contraste e pontos de apoio para o mundo melhor, cuja realização é seu objetivo e sua razão de ser. Se o cidadão optou pelo socialismo, ele descreverá o capitalismo como antecessor e adversário, suprimindo tudo aquilo que, na sociedade capitalista, não possa ser descrito nesses termos.
5) Vladimir Soloviev
Categoria : Artigos
Vladimir Soloviev ensinava que a ciência, a religião e as ideologias são formas de conhecimento coletivas, em contraste com o caráter essencialmente pessoal e individual da filosofia. O que pode mascarar essa realidade ao ponto de torná-la irreconhecível é o fato de existirem enfoques não-filosóficos da filosofia que arriscam assumir a identidade dela mais ou menos como se o jornalismo esportivo se fizesse passar por uma modalidade de esporte, ou um livro de culinária por uma espécie de alimento. Um desses enfoques é o histórico-filológico, que, embora indispensável ao estudo da filosofia, não é filosofia de maneira alguma e só é vendido como se o fosse quando o ensino dessa disciplina, como acontece na USP e em inúmeras outras universidades brasileiras, se torna – para usar as palavras de Jean-Yves Béziau – a “macaqueação subdesenvolvida de um modelo degenerado”. Mas essa ainda é uma deformação erudita e de alto nível. Muito pior é quando a usurpação é de origem religiosa ou político-ideológica. A rigor, não existe filosofia no Brasil. Só erudição histórico-filológica, pregação religiosa e propaganda política. Isso equivale a dizer que, nesse meio, nunca as idéias de um filosofo são compreendidas no seu próprio nível de comunicação, mas invariavelmente usurpadas e engolidas por algum outro tipo de discurso. O mais desastroso é, evidentemente, o açambarcamento ideológico – no mais das vezes, totalmente inconsciente – que acredita poder interpretar as palavras de um filosofo nos termos da propaganda política ou de um discurso de campanha eleitoral. Nada, absolutamente nada do que se lê na internet ou na mídia com pretensões de “crítica ao pensamento de Olavo de Carvalho” ultrapassa o nível dessa confusão quase animalesca.
6) Seminário de Filosofia
Categoria : Artigos
O Seminário é, em primeiro lugar, um curso de filosofia (o único que pode ajudar você a praticar a filosofia em vez de apenas repetir o que outras pessoas, ilustres o quanto se queira, disseram a respeito dela). Mas, pela sua própria natureza, a filosofia não é um saber especializado sobre uma determinada classe de objetos: é uma atividade integral da inteligência que se volta sobre todos os campos do saber e da experiência em busca de sua unidade, de seu fundamento e de sua significação última para a consciência humana. Não há limites, portanto, para os conhecimentos especializados que possam se tornar necessários, como subsídios auxiliares, ao aprendizado e exercício da filosofia: a formação filosófica é, também e inseparavelmente, a abertura da inteligência à totalidade sistêmica dos conhecimentos humanos. Por essa razão, o Seminário é também um sistema de educação integral, com abertura para os seguintes campos de estudos, além da filosofia strictu sensu:
- Religião comparada
- Letras e artes
- Ciências humanas
- Ciências da natureza
- Comunicação e expressão
Essa abrangência torna o Seminário uma espécie de introdução geral aos estudos superiores em sua totalidade. Mas isso não é tudo.
Por : Ronald Robson
7) Elementos da filosofia de Olavo de Carvalho
Categoria : Artigos
Ad Hominem, agosto de 2013
Notas para uma leitura de “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota” (Record, 2013)
- A obra de Olavo de Carvalho possui uma intuição fundamental: a de que só a consciência individual é capaz de conhecimento (1). O que a afirmação possa ter de banal, em aparência, se esvai se notarmos que aí se fala de “consciência individual”, não se tratando tão somente de “sujeito”, o vocábulo descarnado de uso corrente na metafísica dos últimos séculos. Uma coisa é sujeito enquanto meramente contraposto a objeto em teoria do conhecimento; outra coisa é a modalidade de existência histórica de um ser dotado de consciência, que por definição só pode ser individual. E nisso importa prestar atenção à sutileza vocabular porque aí se afirma uma substância e se afirma uma sua propriedade: “consciência individual”, a primeira, e “capacidade de conhecimento”, a segunda. De um ponto de vista biográfico, a substância atualiza essa sua propriedade em um trauma de emergência da razão (2), que consiste no descompasso entre o crescente acúmulo de experiências do indivíduo, no decorrer do tempo, e a sua capacidade mais limitada de coerenciar e dar expressão a essa massa de fatos que, a princípio amorfa, pode se ordenar – à medida que o indivíduo a expressar a si mesmo – a ponto de nela se tornar discernível uma forma. A cada estágio traumático corresponde um padrão de autoconsciência, um eixo central de estruturação do indivíduo, ao menos a nível psicológico, que se pode melhor compreender mediante uma teoria das doze camadas da personalidade.
8) Uma lição de Hegel
Categoria : Artigos
Na introdução à Filosofia do Direito, G. W. F. Hegel explica que uma das capacidades essenciais do ego humano é a de suprimir mentalmente todo dado exterior ou interior, quer este se imponha como presença física ou por quaisquer outros meios – a capacidade, em suma, de negar o universo inteiro e fazer da consciência de si a única realidade. Se não fosse esta faculdade, estaríamos presos no círculo dos estímulos imediatos, como os animais, e não teríamos o acesso aos graus mais elevados de abstração. A negação do dado – “a irrestrita infinitude da abstração absoluta ou universalidade, o puro pensamento de si mesmo”, segundo Hegel – é uma das glórias peculiares da inteligência humana. No entanto, é uma força perigosa, quando exercida independentemente de outras capacidades que a compensam e equilibram, entre as quais, evidentemente, a de dizer “sim” à totalidade do real, capacidade da qual o próprio Hegel deu uma ilustração pitoresca no célebre episódio em que, após contemplar por longo tempo uma soberba montanha, baixou a cabeça e sentenciou: “É, de fato é assim.” Quando o ego vivencia a negação abstrativa como uma experiência de liberdade, e a autodeterminação da vontade se apega a essa experiência, prossegue Hegel, “então temos a liberdade negativa, a liberdade no vazio, que se ergue como paixão e toma forma no mundo.
9) Que é filosofia?
Categoria : Artigos
Toda filosofia nasce de um impulso originário – infantil, se quiserem — de entender a realidade da experiência. Mas, entre esse impulso e a “filosofia” como atividade curricular acadêmica, a distância é às vezes tão grande que ele desaparece por completo. As desculpas para isso são sempre as mais respeitáveis. Antes de responder às perguntas da infância é preciso adquirir os instrumentos intelectuais do saber adulto, o que inclui o estudo das obras dos filósofos; este estudo supõe o domínio da interpretação de textos; e a interpretação de textos pode ser tão interessante que se torna um pólo de atração independente. Eis-nos então nos píncaros do saber filosófico acadêmico, ao menos no sentido franco-uspiano do termo, e imunizados para sempre às perguntas que nos levaram, pela primeira vez, ao estudo da filosofia. Na USP dos anos 60, que não parece ter mudado muito desde então, qualquer tentativa de enfrentar essas perguntas em vez de ocupar-se da nobre tarefa da análise de textos era desprezada como amadorismo, beletrismo, ensaísmo. Quando o prof. José Arthur Gianotti, no auge da sua maturidade intelectual, define a filosofia como uma ocupação com textos, ele não faz senão expressar sua experiência de algo que, no ambiente da sua formação, recebia o nome de “filosofia”, mas que jamais seria reconhecido como tal por Sócrates e Platão.
10) A filosofia e seu inverso
Categoria : Artigos
- A filosofia e seu inverso
- De Sócrates a Júlio Lemos
III. Os filodoxos perante a História
“A história da filosofia é uma coleção de notas-de-rodapé a Platão e Aristóteles.” (Arthur O. Lovejoy)
Se há um dado histórico do qual não se pode duvidar, é que a filosofia nasceu na Grécia e adquiriu sua forma clássica, de uma vez por todas, com Platão e Aristóteles (ambos sob a inspiração original de Sócrates). Você pode chegar a ser filósofo ignorando Sartre, Husserl, Nietzsche, até mesmo Hegel, Leibniz ou Sto. Tomás de Aquino. Mas quem não tomou um banho de imersão nos ensinamentos dos dois pais fundadores permanecerá eternamente alheio ao espírito da filosofia. Ninguém descreveu esse espírito melhor que Eric Voegelin, quando disse que, perdido o antigo senso “cosmológico” de orientação na vida, em que a ordem da existência aparecia como uma imagem do cosmos, a filosofia emergiu como tentativa de encontrar um novo princípio ordenador já não na contemplação do universo físico, mas na interioridade da alma. Na confusão geral do mundo, o filósofo busca ordenar a sua própria alma para tomá-la como medida de aferição da desordem exterior.
11) 12 camadas da personalidade (aula inteira)
Categoria : Artigos
“O problema com a personalidade é que ela não nasce pronta e tem de passar por uma série de mutações evolutivas antes de alcançar um patamar onde alguma atividade intelectual seja possível. Isso nos remete ao velho problema das camadas da personalidade, algo que lecionei há vinte anos atrás e que é sempre um instrumento útil para analisar essas situações. Vou sugerir-lhes que, assim como fizeram o exercício do necrológio no começo deste curso, parem um pouco toda essa linha de estudos que estamos seguindo e façam uma análise de vocês mesmos à luz da teoria das camadas. […]”
Aula de 13/11/2010.
12) Mário Ferreira dos Santos e o nosso futuro
Categoria : Artigos
Dicta & Contradicta, junho de 2009
Quando a obra de um único autor é mais rica e poderosa que a cultura inteira do seu país, das duas uma: ou o país consente em aprender com ele ou recusa o presente dos céus e inflige a si próprio o merecido castigo pelo pecado da soberba, condenando-se ao definhamento intelectual e a todo o cortejo de misérias morais que necessariamente o acompanham. Mário Ferreira ocupa no Brasil uma posição similar à de Giambattista Vico na cultura napolitana do século XVIII ou de Gottfried von Leibniz na Alemanha da mesma época: um gênio universal perdido num ambiente provinciano incapaz não só de compreendê-lo, mas de enxergá-lo. Leibniz ainda teve o recurso de escrever em francês e latim, abrindo assim algum diálogo com interlocutores estrangeiros. Mário está mais próximo de Vico no seu isolamento absoluto, que faz dele uma espécie de monstro. Quem, num ambiente intelectual prisioneiro do imediatismo mais mesquinho e do materialismo mais deprimente – materialismo compreendido nem mesmo como postura filosófica, mas como vício de só crer no que tem impacto corporal –, poderia suspeitar que, num escritório modesto da Vila Olimpia, na verdade uma passagem repleta de livros entre a cozinha e a sala de visitas, um desconhecido discutia em pé de igualdade com os grandes filósofos de todas as épocas, demolia com meticulosidade cruel as escolas de pensamento mais em moda e sobre seus escombros erigia um novo padrão de inteligibilidade universal?
13) Poesia e filosofia
Categoria : Artigos
20 de janeiro de 1999
Excerto do § 1 do Prólogo da obra em preparação, O Olho do Sol: Ensaio sobre a Inteligência. Como certas discussões havidas em classe na última rodada do Seminário de Filosofia mencionassem este texto, do qual a maioria dos alunos não possuía cópia, decidi colocá-lo aqui à disposição de todos os visitantes desta homepage. O Olho do Sol é um calhamaço, a esta altura com seiscentas páginas e ainda bem longe de sua conclusão, onde reúno, ordeno e explico melhor (espero) as coisas que vim lecionando nos últimos anos sobre teoria do conhecimento. — O. de C.
Habituado a expor minhas idéias oralmente, retomando-as e redesenhando-as desde ângulos diversos conforme as exigências dos tempos e das circunstâncias, dando-lhes assim a vida que os conceitos só adquirem quando encarnados nas formas das situações concretas, sinto-me inibido e atemorizado ante a perspectiva de fixá-las em livro, onde já não poderão mover-se e terão de estar, imobilizadas e solenes como pássaros de bronze na forma acidental do instante em que as atinja, em pleno vôo, o disparo fatídico de um ponto final — o equivalente ortográfico de um buraco de bala no meio da testa.
14) Dicas de estudo
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Zero Hora, 5 de setembro de 2004
Depois do artigo sobre Platão, vieram outras perguntas sobre o estudo da filosofia, a maioria delas na linha: o que ler e como ler? A receita é: no começo, poucas leituras, muito bem selecionadas, feitas lentamente, de lápis na mão, com um dicionário de filosofia ao lado para tirar cada dúvida, e repetidas tantas vezes quantas você precise para tornar-se capaz de expor o argumento ainda mais claramente do que o fez o autor. Busque muitos exemplos concretos para dar maior visibilidade a cada idéia. Depois, aos poucos, vá ampliando o círculo, abrangendo estudos eruditos sobre pontos determinados, até conseguir dominar a história inteira das discussões sobre cada tópico, por exemplo, o problema dos níveis de realidade em Platão, os sentidos da palavra “ser” em Aristóteles, etc. Quando tiver dominado o status quaestionis (o desenvolvimento até o estado presente) de um só dentre inumeráveis pontos de discussão, aí você perceberá quanto é miserável o debate intelectual neste país e quanto é urgente formar aqui uma geração de estudantes sérios. Mais urgente do que todos os “planos econômicos de emergência” com os quais se gastam em vão tantos neurônios. Quando digo “bem selecionadas”, refiro-me aos clássicos imprescindíveis: Platão, Aristóteles, Sto. Tomás, Leibniz, Schelling e tutti quanti. Mais tarde fornecerei uma lista.
15) Entrevista aos estudantes de filosofia da UFPE
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Publicado em Minerva – Informe Filosófico da Universidade Federal de Pernambuco. Nº 5, maio de 97.
Minerva: Qual a força de um filósofo dentro de uma sociedade profundamente massificada?
Olavo de Carvalho: É força de um pequeno comprimido de tranqüilizante no corpo de um neurastênico: não vai curá-lo, mas vai lhe dar um breve momento de calma e lucidez no qual ele poderá tomar decisões que mudem sua vida. Se a sociedade souber aproveitar a presença do filósofo, melhor para ela. Se não, o filósofo, sem recriminar ninguém, irá calmamente para o seu canto ensinar a si mesmo o que os outros não quiseram aprender.
Minerva: Qual a importância de Aristóteles para o conhecimento humano?
Olavo: É dupla: a importância do que já nos deu, a importância do que ainda pode nos dar. A primeira consiste das dezenas de ciências que ele fundou – a anatomia comparada, a embriologia comparada, a lógica, a história da filosofia, a teoria literária, a psicologia, etc. – e das concepções metafísicas que inspiraram a Idade Média Cristã. A segunda consiste, sobretudo, da visão que ele tem de uma unidade orgânica do conhecimento – um ideal que o sec. XX perseguiu em vão, mas para cuja realização a filosofia de Aristóteles pode dar ainda uma ajuda substantiva.
16) UM CONSELHO AOS ESTUDANTES DE FILOSOFIA
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A filosofia é aquilo que seus fundadores quiseram, não aquilo que seus sucessores fizeram dela. Só em Sócrates, Platão e Aristóteles você pode obter uma imagem veraz do que é filosofia. Explicação. Não é isso o que lhe dirão os professores, mas eles mentem ou não sabem do que falam. Eles aplicam à filosofia, consciente ou inconscientemente, a máxima hegeliana de que “a essência está naquilo em que a coisa se torna”, isto é, de que somente o desenvolvimento completo da coisa no tempo revela o que ela é; Hegel diz que não podemos conhecer uma arvore olhando só a semente, o que é perfeitamente certo; mas, aplicando este princípio à filosofia, ele e os professores crêem que a filosofia progride em direção à sua autoconsciência e à sua plena realização; logo, que somente pelo conhecimento da sua forma atual e mais recente podemos ter uma idéia certa do que ela é. Daí que o nosso ensino universitário de filosofia dê mais ênfase ao pensamento recente do que ao medieval e antigo. Mas o princípio de Hegel só pode ser aplicado a seres cujo desenvolvimento esteja predeterminado na origem como a forma da arvore está predeterminada na semente.
Por : Redação Brasil Paralelo
17) Paralaxe cognitiva – Eles tomaram o lugar de Deus e negaram a realidade
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Algo grave e perturbador aconteceu na filosofia, especialmente na filosofia moderna. O fenômeno da paralaxe cognitiva não é observado em Sócrates, Platão ou Aristóteles. Tampouco em Santo Agostinho ou Santo Tomás de Aquino. Este é um fenômeno que o professor Olavo de Carvalho estudou, cuja presença pode ser facilmente identificada na filosofia de Descartes, Kant, Marx, Hume e outros.
Introdução
Para entender o que é paralaxe cognitiva, é necessário compreender a noção de realidade.
O que é o mundo real?
Para responder a esta questão, o método é o mais simples, o mesmo que o dos filósofos clássicos. O mundo real é o que se apresenta aos sentidos, no qual os homens estão inseridos, vivendo dia após dia. Todas as vezes que se faz uma afirmação sobre a realidade, a humanidade ou o conhecimento, necessariamente a afirmação inclui a pessoa real que está afirmando. Além disso, todas as circunstâncias que levam à formação do discurso também são incluídas. Se alguém foi capaz de escrever o que escreveu, é porque teve alguma experiência. Por exemplo, se eu der a alguém o endereço de uma pessoa conhecida, neste simples ato está se diz que conheço o endereço e que convivi com a pessoa a ponto de tê-la por conhecida; logo, ela existe.
18) As filosofias e sua estrutura
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A estrutura de uma filosofia é o que ela tem de mais patente e de mais oculto ao mesmo tempo. Patente, porque está presente em todas as suas partes, mesmo as mais ínfimas e humildes, as quais nada são fora dela. Oculto, porque só está presente no fundo, como chave de travamento do conjunto, e jamais como parte ou tema explícito em qualquer das partes. O filósofo que tomasse como tema a estrutura da sua própria filosofia, para discorrer sobre ela, já a estaria assim, nesse mesmo momento, inserindo como parte numa estrutura maior. Uma das consequências disso é que a estrutura não pode ser revelada por nenhuma “análise de texto”, por mais meticulosa e bem cuidadinha que seja, a qual só leva à estrutura da exposição, ou da obra escrita, cuja relação com a estrutura da filosofia propriamente dita é variada e ambígua. O método para apreender a estrutura de uma filosofia tem de partir dos seguintes princípios: (1) Toda filosofia, por abstrata e desinteressada que pareça, é uma intervenção no curso dos negócios humanos. Visa sempre a modificar ou reforçar o estado de coisas na sociedade, na cultura, na ciência, na religião, nos costumes, ou mesmo na condição humana em sua totalidade.
19) Fugindo da filosofia
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Na universidade brasileira – e refiro-me somente às mais prestigiadas –, a lógica e a filologia foram consagradas como os refúgios convencionais da impotência filosófica. Ambas constituem, é claro, domínios autônomos, com seus objetos e métodos respectivos, que às vezes podem ser freqüentados indefinidamente sem nenhum suporte filosófico especial, mas que, como todas as demais ciências, podem suscitar problemas de ordem filosófica para os quais não encontram solução dentro dos seus critérios e terrenos próprios. Nenhuma das duas é a filosofia, embora ambas prestem a ela os serviços de ciências auxiliares freqüentemente indispensáveis. A lógica está para a filosofia como a gramática está para a literatura. Idealmente, espera-se que tudo o que um escritor escreve seja compatível com as regras consagradas da gramática, seja por segui-las em sentido estrito, seja por transcendê-las criativamente, seja por transgredi-las em detalhes menores amplamente compensados – ou até justificados — pelo valor do conjunto.